Prisão, "O jogo que mudou a história”: uma leitura psicológica sobre a institucionalização de preso e carcereiro na série fílmica em questão
Resumo
Este artigo tem por objetivo analisar, na série "O jogo que mudou a história", o processo de institucionalização de Egídio (preso) e Jesus Pedra (carcereiro). O cenário da série foi ambientado no presídio de Cândido Mendes, durante a Ditadura Militar. Em perspectiva teórica foucaultiana, a institucionalização é um processo de fabricação dos sujeitos mediada pelo jogo saber-poder disciplinar. A prisão, enquanto instituição total, inscreve nos sujeitos novos padrões de valores, afetos e condutas como efeito da mortificação do “eu”. A metodologia observacional, nas modalidades observação indireta, artificial e assistemática foram empregadas para mapear práticas institucionais representadas no dispositivo audiovisual e seus efeitos observáveis na representação dos personagens, descritos em diário de campo. A coleta de dados foi associada à prática metodológica da cartografia, para descrever o fluxo de pensamentos que surgiam e orientaram à medida que uma leitura interpretativa era evidenciada e registrada em notas reflexivas. Os resultados indicam que, embora ocupem posições antagônicas, Egídio e Jesus Pedra percorrem trajetórias convergentes de institucionalização: (i) Egídio, submetido à violências físicas, sexuais e simbólicas, internaliza os códigos de conduta prisionais, como parte da tecnologia que agencia sua mortificação; (ii) Jesus Pedra, adere progressivamente às violências institucionalizadas e se submete à lógica prisional até o desvanecimento da representação do seu “eu” anterior. A prisão, interpretada como outra personagem, assume a agencia de guardiã ativa das práticas discursivas, que reproduzem e dão manutenção às violências pela disciplinarização dos sujeitos. Essa análise remete à contradição entre a lógica de vigília e punição para à morte dos sujeitos institucionalizados e a enunciação da ressocialização deles para uma vida que não (nunca) existe ou existirá, pois, efeito da perpetuação dos ciclos de violência, racismo e desumanização de presos e aprisionados. Levanta-se um impasse sobre a promoção da saúde mental nesse contexto, o que impõe capturas e barreiras ao exercício ético-político da Psicologia.
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10.56344/2675-4398